quinta-feira, 9 de setembro de 2010


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- será como se nunca tivesse existido.

cena três.


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com uma certa dificuldade ela conseguiu juntar e trancar tudo, novamente. não teve choro e nem vela, ela pensava que estava vacinada, só pensava.
guardou a caixa verde no fundo do guarda-roupa. e foi procurar o tal papel, depois de algumas horas, ela o encontrou.
deixou em cima da mesinha, para que no dia seguinte ela pudesse voltar na costureira e mandar fazer seu véu.

amanheceu e ela precisa ir na costureira bem cedo, pois tinha outras coisas pra fazer, antes de ir pro consultório. dessa vez, ela foi sozinha.
trocou de roupa, pegou o carro e chegou um pouco depois da hora marcada - ela tem um sério problema e não consegue ser pontual nunca.
depois de se desculpar, entregou o papel para Joana e ficou esperando. enquanto isso, resolveu olhar algumas revistas, ela ainda não tinha escolhido o tipo de bolo que iria querer, pra dizer a verdade, ela ainda precisava escolher várias coisas. sim, a velha arte de deixar tudo para cima da hora.
tomou um chá de cadeira por quase duas horas, mas quando viu o esboço do véu seu rosto se transformou e um sorriso se abriu. o sorriso ficou maior quando viu que seu vestido estava praticamente pronto.

de fato o vestido era um espelho da personalidade dela. simples e marcante.
lá estava ela, se admirando diante do espelho, quando a porta do ateliê se abriu. ela estava tão distraída que nem olhou para quem tinha entrado. até ouvir uma voz que fez suas pernas balançarem e ela quase vir ao chão.

- sempre soube que você seria uma noiva linda e encantadora.

mal sabia ela que ele estava falando sério (...)

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

página 54.

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tem quem acredite que eu sou muito amável, confesso que consigo ser - quando me convém. tem quem acredite que sou gentil e simpática, confesso que consigo ser - com quem eu quero. tem quem acredite que sou educada, confesso que consigo ser - quando estou de bom humor. tem quem acredite que eu compreensiva, confesso que consigo ser - quando espero algo em troca. tem quem acredite que eu sou legal, confesso que consigo ser - quando tenho cafeína no sangue. tem quem acredite que eu sou interessante, confesso que consigo ser - quando algo é interessante pra mim. tem quem acredite que eu sou boa moça, confesso que consigo ser - quando querem que eu seja.

# fingir que está tudo bem, não quer dizer que tudo esteja mal.

um dedo de prosa [23]


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ela: eu não estou bem.
ele: agora eu entendo.
ela: o que?!
ele: essa dor no lado esquerdo do peito.

página 68.


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Às vezes, por pensar que não tem ninguém olhando ou lendo, sinto uma liberdade inexplicável. Falo com mais liberdade e com mais vontade, posso colocar a máscara em cima da cama e usar a minha fantasia natural. Confesso meus desejos e reconheço minhas vontades. Sei, isso tudo é uma falsa liberdade, pois sempre terá um olho curioso.

# quando o caminho é bom, o destino fica em segundo plano.

terça-feira, 7 de setembro de 2010

cena dois.


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ela precisava encontrar o tal papel, como nunca foi muito organizada, era preciso revirar o quarto todo, começando pelas caixas coloridas que ficavam na parte de cima do guarda-roupa. subiu em um banco e na pressa colocou uma caixa por cima da outra. sim, ela perdeu o equilíbrio e deixou as caixas virem ao chão.

no meio das caixas, tinha uma que ela evitava ao máximo de chegar perto, a caixa verde - onde ela guardava as cartas/flores/bilhetes/fotos/ingressos/chaveiros/rascunhos do Francisco.
quando percebeu que a caixa verde estava aberta, sentiu o sangue congelar e o coração pulsar nas pontas dos dedos. ficou em pé e olhando. sem se mexer, sem pensar e (quase) sem respirar. parecia que estava olhando pra um fantasma, tudo bem, aquela caixa não deixava de ser um - pelo menos pra ela.
a última vez que ela tinha olhado as lembranças daquela caixa, foi quando começou a namorar com Arthur. prometeu pra si própria que não iria se machucar e nem machucar alguém com aquelas coisas, sabia que era necessário abrir mão delas, mas descartou qualquer possibilidade de jogá-las fora.
a caixa era verde, porque verde era a cor favorita de Francisco.
não tinha jeito, era preciso arrumar as coisas, afinal, ela não poderia deixar tudo espalhado pelo chão.

era impossível olhar uma foto e não sentir algo, nem que fosse só um frio na espinha. era impossível pegar uma carta e não lê. era impossível não olhar para um ingresso e pensar que tinha sido o melhor filme/show/teatro/apresentação. era impossível apagar o passado.

mal sabia ela que aquilo era apenas um aviso do que estava por vir (...)

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

cena um.


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o calendário marcava 03 de setembro de 1985, ou seja, faltava exatamente um mês para o casamento de Valentina e Arthur.
ela já tinha escolhido o tipo de vestido que queria entrar na igreja, mas ainda faltava consertar alguns detalhes. o terno dele já estava reservado.

ela era dois anos mais velha do que ele.

eles se conheceram quando ela estava pra terminar o curso de psicologia e ele começando o curso de educação física.
o encontro aconteceu no dia que ela ajudou ele a se livrar do trote, ele estava fugindo - não queria ter que dançar e pedir dinheiro no sinal - e sem querer esbarrou nela. pediu desculpas e disse que precisava de ajuda, resumiu as coisas pra ela e antes mesmo de terminar, ela já tinha prendido ele no banheiro feminino. eles perderam a noção da hora e ficaram por lá, conversando/rindo. há tempos ela não se sentia assim e ele nunca tinha vivido aquilo - pelo menos era o que ele achava.
depois de quase dois anos, eles começaram a namorar, no dia 03 de outubro de 1983. mais dois anos se passaram, e pouca/muita coisa mudou.
já estavam formados e empregados, sendo assim, resolveram se casar. no dia 03 de janeiro de 1985, ela fez o pedido. não foi novidade pra ninguém, já que foi ela também quem o pediu em namoro.

era dia de experimentar o vestido, finalmente, ele estava pronto, quer dizer, quase pronto, mas já era de grande emoção entrar dele, mesmo que faltando alguns pedaços. foi junto com a sua melhor amiga e sua mãe.
quando entrou dentro do vestido e se olhou no espelho, não pode evitar as lágrimas e o sorriso largo. de fato era um dia muito especial.
depois de olhar alguns ajustes, ela percebeu que tinha esquecido um documento em casa, quer dizer, um papel pequeno, com as medidas do véu. com isso marcou de voltar no dia seguinte.
voltou pra casa e foi direto pro quarto, precisava encontrar aquele papel.

mal sabia ela que o primeiro sinal estava por vir (...)

domingo, 5 de setembro de 2010

página 75.


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Há gente que me faz sorrir, apenas com uma frase ou uma música. Há gente que me faz perder o humor, apenas com uma brincadeira ou um comentário sem noção. Há gente que me faz sentir amor, apenas com um sorriso ou um cheiro bom. Há gente que me faz sentir ódio, apenas com um olhar ou um beijo-mal-dado. Há gente que me faz bem, apenas com uma sms ou então um e-mail inesperado. Há gente que me faz mal, apenas com um detalhe besta ou ignorado. Há gente que faz minha vida colorida, apenas com uma tinta de caneta ou lápis-de-cor. Há gente que escurece a minha vida, apenas com uma nuvem ou uma borracha. Há gente assim e há gente assada.

# destino traçado, só aguardo pelo contorno.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

aviso [3]:


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- ar(es) de SáPaulo \o/