quarta-feira, 28 de abril de 2010

levo comigo.




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ela fez a imagem dele e acreditava nela.
o imaginou como o ser mais defeituoso de todos, com costumes e manias que ela odiava. dizia que o hálito dele era semelhante ao cheiro da bala vendida no transporte público. comentava que ele tinha o cabelo liso demais. que o branco, dos dentes dele, era falso. que o óculos o deixava com cara de nerd.
também teve coragem de dizer que ele tinha cara de Joaquim - o nome mais feio de todos. não que ela tivesse algo contra esse nome, afinal era o nome de seu avô - o homem, que visto por ela, foi o mais perfeito de todos. ela só achava feio e ponto.
sempre que encontrava com ele na fila da padaria, ficava a imaginar qual seria o seu verdadeiro nome. tá, ela queria saber mais do que isso, ou seja, ela queria um dossiê completo.
precisava descobrir se a imagem que ela fizera dele era verdadeira ou só exagero.

dias/semanas/meses/anos se passaram.

lá estava ela na fila da padaria, com uma sacola de pão de sal/manteiga/queijo/coca-cola. o relógio ainda marcava 06:15. quando colocou tudo sobre o balcão, percebeu que estava se esquecendo de algo e quando se virou percebeu que ele não tinha esquecido e estava segurando o pão de mel que ela tanto gosta de comer com coca-cola logo pela manhã.

talvez eles tenham se casado. talvez eles só se encontraram pra tomar um café-da-manhã. talvez fosse uma despedida. talvez fosse só mais um encontro. talvez ... talvez.

# como se fosse um poço de desejos e vontades.